domingo, 4 de dezembro de 2011

Existente



Há no meu olhar uma ruptura por onde a loucura sempre escoa.

Debruça-te sobre mim na cabeceira da minha demência e depois deixa-me de pé sem muletas. 

Sou uma mulher louca a quem as casas piscam o olho e oferecem a hospitalidade dos seus ventres.

De todos os lados o sentido das coisas abre um olhar sobre mim, como um ente fantástico enorme e subjacente. O sentido emerge de caminhos húmidos e de faces sombrias, debruça-se nas janelas de casas estranhas. Reconstruo constantemente a imagem de uma coisa que perdi para sempre e que não posso esquecer. Agarro nas esquinas os cheiros do passado e tenho consciência dos homens que vão nascer amanhã. Por detrás das janelas ou há inimigos ou adoradores. Nunca neutralidade ou passividade. Sempre a intenção e a premeditação. Até as pedras têm para mim linguagem druídica.
(do livro "A Casa do Incesto" de Anaïs Nin)

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